pa pa ru co
e ele lá veio, todo lampeiro, ocupar o seu lugar, como sempre, na frente;
à mínima resistência, ajeitava um espacinho com o cotevelinho, sempre sorrindo;
e lá ocupava o lugar, com aquele ar incrivelmente esperto e atento, sem nada de novo dizer e, de novo, sem dizer; nada.
trata-se de uma espécie refinada por muitas décadas de existência, a ser o que não parece e a parecer o que não é;
o instinto de sobrevivência ensinou-o a falar pouco, para parecer inteligente e sabedor;
como tinha de ensaiar as poucas palavras que sabia, e as aplicava a dizer nada, tinha de centrar a atenção sobre outra coisa qualquer, enquanto falava desconcertantemente baixo e devagar.
era um alívio, quando ele terminava a micro-exposição de nada, já que as palavras, dele, não brotavam: eram arrancadas à força, num parto doloroso e difícil de concretizar, um espasmo tanto vocal como cerebral.
e "prontes", lá repetia, sempre que podia, o seu "de que", o seu "hades", e o seu "àde início", mascarando com bandeiras insolventes as ideias de outros, rejeitadas em tempo por ele próprio.
o paparuco é assim: para sobreviver, tem de se apropriar das ideias, letras, textos e esquemas de outros...
o paparuco chega sempre primeiro e fica na fila da frente; não descola, não dá espaço e imita na perfeição o papagaio, espécie de paparuco mais inofensiva, mas que sonha e quer ser um paparuco.
hoje é a abertura solene do espaço de paparucagem, um espaço dedicado a todo o paparuco, seja profissional ou amador (os piores são os amadores, porque fazem ainda mais mal...)