o bruto
Enorme, a dar para o "mesmo muito grande"
cabelo curto, meio encaracolado,
orelhas de dumbo, nariz sobressaído,
boca larga e lábios grossos,
assim estava o gigante curvado
sobre o prato bem fornecido de carnes grelhadas.
As mãos, talochas; os dedos, ramos;
e depois, sem mais, de forma silenciosa,
como que pedindo desculpa por existir,
atravessa a sala repleta de comensais,
para se sentar e se agarrar ao teclado,
aos pedais de comando, e deixa sair do espírito
pelo som da alma, que escorre abundantemente
pela voz serena, grave, colocada, certa, viva, magnética.
Volumes de contraste, esses o do corpanzil e o da voz.
Indiferentes à qualidade, deixamos que o som característico dos talheres e dos copos
deixe de ser barulho pela queda acidental, uma, outra e outra vez, de uma bandeja que,
desajeitadamente, me escorregou dos dedos para provocar o silêncio e deixar que o bom gigante
se deixasse e fizesse ouvir.
Na sala, agora silenciosa, porque silenciada pelo espanto da sonoridade desafinada da bandeja;
sobressai em triunfo, o sorriso do gigante, da voz melodiosa, dos olhos alegres, agradecido
pelo momento em que todos acabam por ignorar a bandeja e nele concentram os olhares,
ecom eles, a atenção à emoção oferecida em tons de português numa acentuação brasileira.
Do povo que lavas no rio, à gente da minha terra, passa em desfile, por via dele,
a qualidade poética brasileira.
Despeço-me. Acenos de agradecimento.
Let right be done, dizem-me os asas.
Fez-se justiça, digo eu.