ali, na Praça, o centro, o velho cigano, de fato preto, exibe a chave do Mercedes na mão que gira enquanto a pulmão cheio e olhos cerrados, deixa sair uma cantilena totalmente étnica, totalmente inesperada, totalmente rouca, que espanta quem passa e prende de atenções quem fica.
baldou-se para o costume, para o ambiente e para o correcto e exerce ali mesmo o direito a ser o que lhe vai na alma.
não percebo se à esperança, felicidade ououtra qualquer conformidade sob a forma de dor de alma.
o cão fareja incessantemente as folhas e as relvas verdes; nao se decide; as patas aterram atabalhoadamente, como ele é todo, esquivo, elegante, trapalhão.
transporta na meiguice dos olhos e na penca enorme e ainda escura, toda a felicidade de quem não está só.
a rapariga esbofetei-a o rapaz que fica lívido, espartilhado entre a pública vergonha e a provada causa para aquele efeito.
as luzes do painel de controlo acendem como uma linda árvore de natal tecno, sempre que se pisa o travão. deixei de praguejar. mentalmente troco de oficina. abandono o que reclamo e aguardo. na mecânica, nada se se cria, tudo se desgasta.
distribuo o papel aos seus donos. distribuo a origem para mensalmente haver uma forte tributação. destruo sonhos a curtíssimo prazo. viro-me para os de médio prazo. o semáforo ficou amarelo. sem bofetada, senti o perigo.
mentes diferentes pensam diferentemente o tempo.
da melodia do "purple rain" caio nos miseráveis que ainda me impressionam a noite e preenchem a vida do dia.
o filme ali, o drama aqui tão perto. samba pa ti.
fecho o quinto livro de leitura simultânea. abro o coração. encho o que posso do pulmão, hoje mais curto; no cérebro desperta-se o aroma do tomate assado para sopa. ensinamentos finos para um rústico sólido.
fechos os olhos e vejo-te. recrio a sensação de chegar a casa. fico aí, preso nesse fragmento de memória, livre na espera de que chegue a vez da casa chegar a mim.