"o tema não é novo.
em tempos de crise, muitas das soluções mais "velhas" são repescadas. Nas Grandes Guerras, Hollywood serviu o mesmo fim para o esforço de guerra, passando mensagens de apoio, em que o "americano médio" era herói da pátria e ajudava a salvar o Mundo.
diz-se que a leste, era mandatório ver os filmes da série "007" para que pudessem estar a par das possíveis tecnologias empregues, ficcionadas ou não.
até a mais singela novela brasileira, tem sido aproveitada para passar "dicas" ao povo, em questões de saúde pública e cultura mínima.
"007 - Skyfall" é um ótimo exemplo da mais recente operação de propaganda especialista anglo-saxónica sob a forma de cinema, de onde se conclui:
- os Serviços de Informações fazem falta à moda antiga: as fontes humanas são primordiais;
- as novas tecnologias são importantes mas não resolvem tudo;
- os operacionais de campo fazem falta;
- há outros inimigos importantes do Reino Unido e dos seus interesses, para além de países ou coligações;
- ninguém está a salvo da ameaça;
- o Reino Unido depende do patriotismo do povo Britânico e dos seus abnegados profissionais de Segurança.
No filme, pretensa ficção, completa-se um ciclo. no fim, "M" irá dar lugar a um Diretor com conhecimentos de operacional; "Q", novo, especialista e altamente "techno", contrasta com os anteriores mananciais de "gadgets" para espião. "Moneypenny" volta noutra pessoa, com menos trinta e cinco anos,
hoje, o operacional tem como equipamento, uma pistola tradicional (mas sofisticada na possibilidade de uso) e um localizador.
nada de mais...
não há mais o desfile de truques e de surpresas tecnológicas. não há ficção, no sentido de que os cenários fantasiosos são inexistentes.
há só a figura do operacional anti-herói, leal e patriota.
os operacionais antigos, têm cabimento no modelo atual, sofisticado, tecnologicamente avançado, porque afinal, são os únicos a ir ao local, buscar a derradeira informação, ou, se necessário, premir um gatilho.
o Serviço responde a uma Comissão, em prol da transparência democrática e a previsível necessidade de contenção de custos.
a resposta vem pela forma poética mas certeira.
os vilões perseguem os bons, que, para escaparem, têm de retornar a táticas antigas assentes na improvisação e no conhecimento tácito.
o última plano, repleto de bandeiras inglesas, apela ao coração. só faltou ouvir em voz de fundo e em tom português, "deixem-nos trabalhar!".
recados britânicos, para uma plateia não tão heterogénea.
mensagens subliminares, nacionais, nacionalistas e ocidentalistas, perante um quadro internacional economicamente complexo e democraticamente inquieto."