não o vivas no medos dos outros vivê-los é viver na vida deles não na tua não no teu tempo
é deitar fora o tempo o tempo que é tanto teu como meu doutra forma tornado mero contratempo
é ficar o tempo inteiro partido e na dúvida se o tempo foi perdido ou se de outra forma tivesse acontecido e tido teria sido escrita esta vida com tinta doutro tinteiro
nem era brincadeira nem uma prova de orientação de pombos e contudo partiam em direcção de outras vidas de outros locais noutros locais com mais uma mão cheia de nada senão os ensinamentos das noites anteriores sofrem as ondas de choques de divisões da vida aprendem a sofrer baixinho formulam com cuidado as perguntas para não magoar o destino dizem num melodrama o que lhes vai na alma
quantos natais já passámos separados
adeus pai não te esquecerei
não há forma de lhes descrever esse sentimento de que não há Natal e que também eu não os esquecerei
escrever sem ponto sem parágrafo e quase sem linha e deixar fluir os comboios de letras numa folha imaginária desenhada de branco sobre nada senão o reflexo daquilo que nos fazem crer que é e existe mas nem é nem existe aquilo que só se vê enquanto tu estás assim a trabalhar activado dependente desenhos perfeitos idênticos em preto sobre branco onde só o espaço entre cada coisa escrita é simétrico numa teia de ideias que vão e que ficam saem das pontas dos dedos vindo de onde antes foram escarradas se olhas vês a ideia exposta num relevo tão artificial que os teus dedos jamais o sentirão eu aqui tu aí nos escritos nós proscritos vós letras soltas