passar
e lá foram. foram os dias e as noites. ficaram alegrias e tristezas, empilhadas no passado. mágoas no tempo.
são momentos. os mais velhos dizem que tudo passa com o tempo. que o passado é irreversível. não sei. provavelmente ainda não sou suficientemente velho. por vezes fica a sensação que são os momentos que ficam e somos nós que passamos por eles. mais uma forma de inversão do conceito de tempo. o mais estranho é que o tempo, invenção do Homem, não pode ser parado, nem destruído, enquanto se existe.
fica-se agarrado ao tempo enquanto a vida flui para alguém. quando a vida lhe pára, o tempo só corre para ele na memória dos outros, enquanto eles quiserem ou lhes for possível. neste sentido, verdadeiramente livres, não são os que são ricos, sós, ou qualquer outra situação da vida, mas sim os que decidirem "desalinhar" - não se subjugarem ao tempo e às angústias que lhe estão inerentes. o choque com os "alinhados" é incontornável.
Perante a tristeza de outros, a nossa é bem menor, porque em regra, ou nos sentimos causadores, ou responsáveis, ou impotentes para amenizar o próximo. Compreendo hoje o meu conhecido Poças (não era amigo íntimo) e a última conversa que tivemos, acidentalmente. ele, que quando quis parar o tempo, parou-se a si mesmo.
o tempo continuou para todos os outros. para ele, contudo, só na minha memória.