"... daí que até já se tinha habituado a acordar daquela forma: diferente. Ou seja, nem melhor nem pior. A diferença escondia-se na tomada de consciência de que a vida não contém, nem consiste, em ciclos ou em círculos: os primeiros tendem a repetir-se com pequenas alterações entre o melhor e o pior; os segundos apontam inevitavelmente ao termo, numa falsa (porque aparente) condução a um ponto de partida. De onde resultava a conclusão, "
Fico a olhar; o silêncio da casa é estranho. Continuo a olhar aquele ponto no teto, como num transe absurdamente consciente, de onde não se sai nem entra: fica-se. Tá-se. Parece que me vai sendo mais difícil ultrapassar aquele tipo de serviço; um servo per amikeco, num estilo levezinho, onde a parte da expressão "servo" destoa; está a mais. Os mais novos não se importam; os mais velhos deixaram de se importar; os restantes não importam. Estatísticas. Aquele ponto. Tanto para ler e decorar. Tanto (slide) para fazer. E aquele músculo que não se mexe. Fico a olhar. Naquele ponto. Mano: se nem há vento, como ajustamos as velas? Parado, regressei...
Impressiona saber com a absoluta certeza de quem conhece, que uma das formas de se verificar a eficiência policial, é através da contabilização do "número de presos".
Para esta triste "Escola", se as polícias não fazem presos, é porque não trabalham. Aparentemente, não importa se, com a deliberada escolha da não detenção de "um primário" face ao crime praticado, se "agiu bem", isto é, se se agiu dentro da legalidade; isto é, se se reuniram de forma apropriada os indícios da "verdade material" do que se terá verdadeiramente passado.
"O Direito Penal é o Direito dos factos-tipificados e não das intenções de praticar esses factos" - dizem em algumas Faculdades.
Não consigo deixar de me surprender quando a realidade é outra e se sugere que "a investigação", perante os indícios dos factos recolhidos, podia ter "escolhido outro crime" que permitisse a detenção: sempre era mais um detido.
Já imagino a parte final dos ofícios: "A Bem da Estatística" Que se lixe se ele vai dentro, se vai ser violado, ou se vai sofrer psicologicamente, ou se vai aprender a realizar mais crimes, ou se os pais desmaiam, ou se se vai suicidar, ou ... que se lixe. Importante é deter. Importa é demonstrar trabalho: deter.
Estranhos tempos estes, os do Estado de Direito Democrático.