Aproveitando a onda do não se resolvem problemas por decreto, aqui vos deixo outro post.
Fui confrontado numa mesa ao lado aí num blog qualquer da vida real, com uma ideia recente de uma chefia da Função Pública. Admirei-me, claro!
É interessante verificar que apesar de em teoria as administrações, (, não, não são as de condomínio), serem muito "abertas ao fututro", na prática, continuam retrógadas, i.e. num movimento real, mas de sentido oposto ao sentido aparente de positividade
Não é complexo; é um trocadilho significante: o mesmo que evolução negativa.
Com tanto apelo à formação e tanto receio "dos novos e melhor preparados países do novo espaço europeu", o trabalhador estudante português vê-se espartilhado entre o deixas o trabalho feito, "agora?!?" e o preciso de ir para as aulas, principalmente se for a frequência do Ensino Superior que está em causa.
O chefe não gosta. Não gosta, se não for licenciado. E não gosta, se já é licenciado. Teme-se a concorrência intelectual.
E o interessante é que na ânsia da introdução de modernos modelos de gestão que aperfeiçoem e dinamizem as organizações, conduzindo a altos padrões de eficiência, (isto não são citações: são ecos de discursos gastos), se tentam introduzir modificações na Função Pública com base em modelos do sector privado, assim com a suavidade de quem arranca um dente, são, mas sem qualquer anestesia.
Doi e depois de arrancado não se melhorou nada.
E é tanto mais interessante, dizia, porque ao mesmo tempo que isso se faz ao som dos tais ecos acima referidos, (ouvem? Lá ao fundo? e os gritos do homem na cadeira do arrancador de dentes?), na organização vai-se dificultando ao trabalhador estudante o tempo necessário para frequência do ensino, arranjando tarefas desnecessárias, criticando as ausências e dando como bom exemplo o típico homus-nullus, cara de fuínha e vida profissional de guerrilha feita.
E à medida que se trata de um nível superior de ensino, aumentam as resistências.
Obviamente, a figura bem caricaturada do chefe num qualquer anúncio radiofónico actual (o do "xavier") é verdadeira e por isso mesmo é que ela é caricaturável.
E é aqui que está a contradição: criam-se novos mecanismos de auto-controlo, de grande objectividade e rigor, "com vista à melhoria de serviços", em vez de se apostar mais na formação directa, com proveitos evidentes para a organização no imediato e na indirecta, com proveitos para o formando que, em última análise, enriqueceria a própria organização no mediato.
E o mesmo esquema derrotista e a mesma negatividade passam agora pela criação, nalguns sectores de FP(*) pela brilhante ideia de criação de núcleos de controle de qualidade e de produção.
À boa maneira portuguesa, a bondade da ideia é rapidamente trucidada pelo carácter repressivo do núcleo de qualidade.
Mais valia que se desenhassem melhores esquemas de progressão na carreira, com efectiva e justa classificação funcional... mas em que fosse dada oportunidade dos subordinados classificarem os subordinantes.
Existe actualmente legislação que visa premiar o funcionário que apresenta trabalhos críticos "com vista à melhoria de serviços".
Mas as chefias, atentamente sábias e bondosas não a aplicam, para protecção do próprio funcionário: há que protegê-lo dos outros, deixando-o ao mesmo nível de nulidade e assim não despertando indesejáveis "desigualdades"!
A via actualmente escohida parece-me tão errada como a atitude das chefias atrás espelhada. E mais uma vez me quer parecer, que melhor seria reciclar-se a chefia, ajudar a que funcionários e trabalhadores subam na escala da formação escolar, (afinal pessoal), enfim, apostar kapital humano.
Mas não. É mais como representado na figura(**) que segue, que encontrei refundida num livro antigo que quis rever.
A linha do tempo em baixo; à esquerda a linha da motivação; o funcionário entra pujante e é reeducado ao longo do tempo por forma a não destoar dos outros, virando cúmplice da má-organização. Em apenas dois anos.
Da formação e da vontade para ela, resta a última. E para o trabalho, nem se fala.
É pena. Não é?
(*) Função Pública; o que pensava que era?
(**) in A Gestão na Administração Pública, 1.ª ed. Editorial Presença, 1991. Os seus autores: Paula Silveira e Nelson Trindade; abundantes e espetaculares ilustrações de Marta Figueiredo.
O livro, de texto apelativo, é infelizmente, actualíssimo nas conclusões.